CIDADE DO HUAMBO - A VENEZA ANGOLANA....

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cidadã Tocantinense, Dona Margarida é homenageada em Tocantínia
Sex, 10 de Dezembro de 2010 11:18
Com o apoio do governo federal a Prefeitura de Tocantinia na pessoa do prefeito Manoel Silvino Gomes Neto (PR), inaugurou num anexo da prefeitura, a Biblioteca Municipal Margarida Gonçalves nesta quinta-feira, dia 9 de dezembro. Dona Margarida, 83 anos, foi homenageada em vida pelo trabalhos prestados e porque veio para as margens do Rio Tocantins, em 1948, com 21 anos, como Missionária Batista da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Embora aposentada, ela continua como missionária da junta, prestando serviço na cidade de Lajeado. A homenageada foi diretora do Colégio Batista de Tocantinia por quase 40 anos. Lecionou no Colegio Batista de Santarem, no Pará, no Instituto Batista de Carolina, Maranhão. Também foi diretora do Colegio Batista de Palmas.

Dona Margarida estudou no Baptist Seminary Fort Worth, Texas, Estados Unidos. Ela também ocupa a Cadeira 22 da Academia Tocantinense de Letras. Cidadã Tocantinense, título concedido pela Assembleia Legislativa do Estado, Dona Margarida escreveu o livro "Beatriz a Que Faz Feliz" (Rio de Janeiro, Juerp, 1980); Facetas da Vida Cristã (Palmas, Provisão, 2007). Na inauguração da Biblioteca, em Tocantinia, estiveram presentes figuras ilustres, entre as quais, Pastor Samuel (do Rio de Janeiro, representado a Junta de Missões Nacionais), Eduardo Almeida (presidente da Academia Tocantinense de Letras), Mario Ribeiro Martins (procurador de justiça aposentado e membro da ATL), João Portelinha (presidente da Academia Palmense de Letras), Osmar Casa Grande (da Academia Palmense de Letras), o Pastor Claudio, além de centenas de outras pessoas
Solidariedade Masculina ao Extremo



Eurípedes disse, certa vez, que era melhor estar três vezes em combate com escudo e tudo que parir uma só vez!
Se a gravidez é felicidade para a mulher, já não se pode dizer a mesma coisa do parto, que é complicado, sobretudo pelas dores que aumentam de intensidade, sendo, em princípio, espaçadas, reduzindo-se pouco a pouco os intervalos quanto mais se aproximam de seu término. Às vezes, para desgraça destas, o parto é acompanhado com eclâmpsia, que se manifestam por perturbações visuais e cerebrais, dores de estômago e, finalmente, tremores nos músculos da face, pálpebras e lábios, etc. Quer dizer, “dar à luz” não é fácil! Não é por acaso que as mães para suas filhas que, quando forem mães, saberão certamente o que é ser MÃE. Mas o meu propósito aqui não é alarmar ninguém sobre a “condenação” da mulher apregoada em Madéias: - Engendrarás na dor, disse Deus à mulher. Nem tão pouco fazer um tratado de medicina.
Em toda história da humanidade, sempre se pensou acabar ou pelo menos amenizar as dores de parto. E sempre também questionou-se o papel masculino, a participação do homem na geração da prole e a possibilidade de alguma solidariedade masculina para as parturientes.
Entre os índios, de acordo com o meu amigo Eustáquio Grillo, docente da UnB, na altura em que a índia está de resguardo, o esposo fica de resguardo também, podendo ser até mais radical, ou seja, mais próximo do repouso absoluto. Isto, segundo o ilustre docente, talvez seja conseqüência da crença de que a boa gestação exige, digamos, o continuo fornecimento de matéria-prima! O que, no caso, significa esperma e, por isso, implica manter relações sexuais diárias com a esposa grávida. Não é uma forma de solidariedade masculina?
Nas aldeias africanas, a gravidez é também um período carregado de tabus e mistérios. A grávida é influente e tem toda solidariedade e carinho, não somente do marido, mas de toda comunidade. Aqui o curandeiro dispõe de um aparato de variadíssimos recursos assistenciais e mágicos para libertá-la de um parto com dor. O engenho dos especialistas da magia parece tão inesgotável e variado que incluem no seu bojo uns tantos milongos para a transferência das dores para o marido.
A minha irmã Etelvina resolveu a passagem da dor para o marido na hora. Quando estava a ter o nenê, mordeu decididamente o marido... e ficou resolvido. Não foi preciso curandeiro nenhum!
Ao contrário dos índios, os maridos da sociedade tradicional africana, também por solidariedade, abstêm-se de toda relação sexual desde o começo da gravidez. E quando a esposa está a dar à luz, geralmente de cócoras, o marido deve sair de casa para que não ocorram influências mágicas perigosas. Caso sejam detectadas, devem ser imediatamente contrafeitas pelo curandeiro. Ao contrário do índio, que por solidariedade fica em casa, aquele tem que sair de casa por solidariedade à mulher.
No Huambo, minha terra, as aldeias são o lugar onde a cultura tradicional está mais arraigada. Quando o parto é difícil ou trata-se de um caso extraordinário, deve intervir imediatamente a parteira tradicional ou os ginecólogos tradicionais. Nestes casos quase sempre se imputa a culpa ao marido. Crê-se que geralmente estes males são ocasionados pela infidelidade masculina.
A infidelidade paterna é sempre considerada nefasta. Nestes casos, a parteira implora-lhe que se redima obrigando-o, na presença, a dizer todas as amantes que já teve, pelo menos na fase de gestação, para que desta feita se facilite o trabalho de parto e, por força da retratação do seu pai, o bebê nasça bem.
Um amigo meu esteve também numa situação bem pouco confortável. A mulher estava com dificuldades no parto e a parteira mandou-o chamar para que ele dissesse o nome das suas amantes. Como a lista era enormissíma, uma das suas tias sugeriu que se fosse ao hospital, porque o infeliz nunca mais terminava com os nomes.
No meu recente romance, lançado em novembro deste ano: “O dia em que um Ngola descobriu Portugal”, tentei exatamente retratar esse episódio com dois personagens principais do meu livro: Nganga Nzumba e Tchilombo:

“... Algumas mulheres mais próximas da família real acercaram-se uma a uma do leito da rainha Tchilombo, e chorando aos soluços entenderam-lhe as mãos e garatiram-na com voz entrecortada que ela sobreviveria e daria um herdeiro ao rei, embora, também, fosse culpada pela dificuldade do parto por não se ter submetido, a partir do terceiro mês de gestação, a ritos purificatórios perante o adivinho.
O rei Nganga Nzumba, manteve-se sentado numa cadeira ao lado do leito de sua esposa e, em tom amigo, disse-lhe com meiga censura:
- Então, minha bem-amada! Tu, que fostes sempre a primeira, cada vez que era ocasião de servires o teu senhor e mestre, pela palavra e pelos actos, por que tardas o nascimento do nosso filho? Queres ser a única a negar-me o que as outras de bom grado e livremente me concederiam? Não entendes que é aí que está o futuro do nosso reino? Sei que queres saber quantas amantes eu já tive ou tenho! É isso? – Indagou Nganga Nzumba.
Ela, porém, em sua dor silenciosa, lançava a cabeça para trás... Premiu compulsivamente suas mãos contra a barra da cama, enquanto ondas violentas de sangue e espalhavam nos lençóis, e então torceu o seu dolorido corpo, como se estivesse sendo vergastada!

-Vou dizer-te todas amantes que já tive! –Prometeu Nzumba.


A lista era enorme e o infeliz genitor nunca mais terminava com os nomes de suas amantes... Entretanto, uma ex-escrava, que foi enfermeira de um senhor de engenho, fez o parto.
O nasciturno de parto normal quase sempre dá sinais de vida com espirros e choros! Não foi o caso do primogênito de Nzumba e Tchilombo que nasceu com sinais de cansaço... A parteira Nganguela preocupada com o caso pôs uma folha da árvore “Mumwe” sobre o peito da criança e tocou instrumentos de ferro. Com o som destes instrumentos, o bebê assustou-se e começou a chorar... Nzumba e Tchilombo choram juntos de plena felicidade! Doravante... Meu queridinho filho chamar-te-ei de Nzumbi e serás um grande guerreiro! – Vaticinou Nganga Nzumba”.

Um caso, porém, que pode ser considerado como exemplo extremo de solidariedade masculina. É um episódio inédito que se passou no interior do Brasil.
Na casa de uma família cabocla, havia três compartimentos: dois quartos, intermediados por uma sala. Uma parturiente estava num quarto a ter o bebê. Um dos pulsos tinha amarrado um cordel, o qual, subindo e passado por sobre os caibros, ia ter no quarto vizinho. Aí descia e tinha a outra ponta amarrada... adivinhem? ... Lá mesmo, nos penduricalhos do marido. Conforme doía, a mulher puxava espasmodicamente o cordel e assim o marido sofria junto. Nos dois lados era um berreiro dos diabos.
Haverá melhor exemplo de solidariedade masculina?

Oxalá que a moda não pegue em Angola, senão estamos todos fritos...

domingo, 28 de novembro de 2010

Relato da escravidão em romance de João Portelinha
05:07

Um romance histórico que mistura ficção e realidade, assim define o autor do livro O Dia que um Ngola Descobriu Portugal, o professor João Rodrigues Portelinha da Silva. O livro tem como tema central o relato da escravidão em Angola e no Brasil, sendo a personagem central a formosa e lendária rainha Njinga Mbandi e o Nganga Nzumba (Zumbi dos Palmares), que, na ficção, são mãe e filho, mas que na realidade, embora não sejam, viveram na mesma época e têm a mesma origem. Herança cultural No livro, o autor comenta que tentou ilustrar a relação forte existente entre os povos angolanos e brasileiros. “Angola é a mãe preta que amamentou culturalmente o Brasil e o colocou ao colo através das mucamas”, diz o escritor. Portelinha revela que a obra é fruto de um projeto que o acompanhava desde a juventude. “Sonhava em ter um navio e nele colocar todas as pessoas provenientes de países que foram colonizados por Portugal. Levaria-os até Portugal e lá diria que essas pessoas teriam descoberto Portugal.” Ele conta que desde o começo da obra teve ambição de reproduzir com realismo o que foi o comércio de escravos da maneira mais verídica e completa, buscando evitar banalidades. A obra, segundo ele, é feita de observação puramente naturalista, com uma ampla parte psicológica das ações, bem como sentimentos dos personagens que retratou. O lançamento do livro O Dia que um Ngola Descobriu Portugal ocorreu na última segunda-feira, no Anfiteatro do Campus da Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Palmas. Segundo Portelinha, o livro também foi lançado no início deste mês, no Clube Naval e das Nações, em Brasília, com a presença do corpo diplomático creditado no Brasil. Escritor Formado em Direito pela Universidade Antônio Agostinho Neto em Angola (primeira turma formada pós-independência) e em Ciências Políticas pelo Instituto Wilhelm Pieck - Berlim, João Rodrigues Portelinha da Silva possui mestrado em Filosofia do Direito pela Academia de Ciências Sociais, Sofia - Bulgária. Doutorado em Sociologia do Estado e Sociedade pela UnB - Universidade Nacional de Brasília. Entre outros vários títulos que acumula, ele teve uma experiência expressiva na África. Foi chefe do ATM do Governo Provincial do Huambo, diretor Jurídico do Comissariado Provincial do Huambo, docente da Escola Nac. do Partido, chefe de Cátedra de Ciências Sociais da Pré-Academia Militar do Huambo. É presidente da Associação dos Naturais e Amigos da África em Palmas, Brasil. É membro da Associação dos Naturais e Amigos de Angola no Brasil e presidente da Academia Palmense de Letras. Além disso, tem vários livros e ensaios publicados de Literatura, Direito, Ciência Política, História e Sociologia Jurídica. Tem atuado, também, como analista político em programas na TV e jornais locais e nacionais.



http://www.jornaldotocantins.com.br/anteriores/25nov2010/artevida/5.htm



Fonte: Jornal do Tocantins



Autor: Redação

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PORTELINHA LANÇA LIVRO NA UFT
Mesa-redonda discutirá política pública para quilombolas e cotas na UFT
Por Samuel Lima e José Filho
22 de novembro de 2010
Hoje a noite, no Anfiteatro do Campus da UFT em Palmas, ocorrerá um mesa-redonda que abordará "Políticas Públicas para a população quilombola e cotas na UFT". O evento começa às 19h30 e deverá contar com a presença do reitor Alan Barbiero, e do subsecretário de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), João Carlos Nogueira; o professor Élson Santos (UFT) mediará a mesa-redonda.
O evento faz parte da programação do Seminário da Consciência Negra: fórum de políticas públicas, iniciado no último dia 19 e que trata de diversos assuntos, indo da História da África; Políticas públicas para quilombolas e cotas; até Educação, Raça e Sexualidade e Dimensionamentos de Sociabilidades Negras no Brasil Contemporâneo. A programação prossegue até 25 de novembro, nos campi da Universidade Federal do Tocantins de Palmas e Porto Nacional, e ainda no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO).
O Seminário acontece por ocasião das comemorações do Dia da Consciência Negra - celebrado em 20 de Novembro no Brasil. A data é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. O Dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral. O encontro é uma realização do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UFT) e conta com apoio do Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnicorracial (Ceppir).

Acesse aqui a programação completa do Seminário da Consciência Negra.
Livro - Durante a programação desta segunda-feira (22), o professor João Rodrigues Portelinha da Silva, do colegiado de Direito, lançará o seu livro "O Dia que um Ngola Descobriu Portugal". O livro, um romance, tem como tema o relato da escravidão em Angola e no Brasil.

De acordo com a cantora, atriz, apresentadora e crítica de literatura angolana-brasileira, Helga Féti, o livro do professor Portelinha, como é conhecido na UFT, reproduz com realismo o que foi "o infame comércio de escravos, de maneira mais verídica e mais completa e nos mínimos detalhes, sem buscar evitar o que pudesse haver de banal ou mesmo de desagradável em tudo quanto lhe impressionara sobre a escravidão do seu continente e das duas terras que ama de paixão: Angola, a mãe preta, e o Brasil, seu filho mestiço", diz. Na ocasião, o livro será apresentado pelo poeta e Vice- presidente da Academia Palmense de Letras. Osmar Casagrande.
Pos

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Autor Angolano, joão portelinha lança livro no Brasil, no Aniversário da Independência Nacional
Publicado: 17/11/2010 | Por: Redacção Zwela | Em: Angola, Arte e Cultura, Cultura, Literatura | Lido 13 Vezes


BRASILIA/BRASIL (ZWELA ANGOLA) - Foi um sucesso o lançamento do romance histórico o “Dia em que Um Ngola Descobriu Portugal” do escritor angolano João Portelinha d´Angola, realizado no dia 11 de Novembro no Clube Naval de Brasília e no dia 12 no Clube das Nações; dois lugares nobres da cidade, onde se comemorou o 35 ° Aniversário da Independência de Angola patrocinado pela Embaixada de Angola, no Brasil. O evento foi elegantíssimo, frequentado por autoridades locais e nacionais brasileiras, angolanas e doutras nações, bem como representantes do corpo diplomático de outras nações acreditadas no Brasil.

Estavam presentes todos os membros do corpo diplomático angolano no Brasil: o Embaixador, Sr. Leovigildo da Costa e Silva e a Primeira Dama, Ministra Conselheira, a Sra. Maria Eugénia de Almerilda Ferreira dos Santos, o Adido Financeiro, Sra. Marinela Inah Vicente Olavo Gamboa Alves, o Adido Administrativo, a Sra. Maria de Fátima Manuel Rodrigues Velasco, no Sector Consular, o 3º Secretário, Sr. Rodrigo de Sousa, 3º Secretário, a Sra. Teresinha Miguel Santana Viegas, Chancelaria Militar, o Sr. Rafael Daniel Catumbila – General, Sr. Arnando Baptista York – Coronel e Sr. Zina Daniel – Capitão. Na ocasião, a Senhora Ministra Conselheira fez um lindo discurso enaltecendo os ganhos da Liberdade dos angolanos, da democracia, do desenvolvimento sócio - económico de Angola e "a forma exemplar e particular como foi alcaçada a paz".

Os convidados da Embaixada e alguns amigos do autor angolano vibraram com o livro do romancista, contista, cronista e poeta da poesia essencial, que diz o máximo com o mínimo. Os convidados da Embaixada eram ilustríssimos: ministros, desembargadores, a maioria das embaixadas estavam representadas; adidos militares, culturais, de imprensa e comércio e suas respectivas damas, conselheiros das embaixadas, poetas, escritores e artistas da região estiveram presentes congratulando-se com mais um aniversário da independência da jovem e mais prospera nação africana, Angola.

O destaque foi o Ministro da Defesa Nelson Jobim, o primeiro a comprar o livro do autor, o Ministro da Integração Racial, ministros do Supremo Tribunal, Procurador da República de Angola, Embaixador da Palestina, Ibrahim Al Zeben, Embaixador de Marrocos, o Senhor Mohamed Louafa e esposa, Conselheiro da Embaixada de Timor-Leste, Embaixador dos EUA e sua esposa, Nelson de Magalhães Peres, da Corte Arbitral do Brasil, Embaixador da Grécia Dimitri Alexandrakis, António Alexandro, Primeiro Conselheiro Comercial da Embaixada da Itália, doutor Rodrigo. Bernardo de Sousa, altas patentes do exército e da aeronáutica do Brasil, estudantes e angolanos radicados no Brasil. No entanto, quem não passou despercebido foi o ilustríssimo casal e convidados especiais, o famoso aviador solitário Gérald Móss e sua simpática esposa Margi Móss que nasceu em Nairobi, no Quênia, onde teve uma infância de sonhos com aquelas paisagens exibidas no filme “Out of África” – Entre Dois Amores -, como pano de fundo. Moraram em vários países, encantaram-se de vez pelo Rio de Janeiro e se naturalizaram brasileiros. Em 2006, para ficarem mais perto da Amazônia e bem no centro do país, o famoso casal fez o impensável: mudou-se do Rio de Janeiro para Brasília.

Foram duas noites de festa, de gala, os salões com arranjos e iluminação especiais, comes e bebes “à la vonté” da melhor culinária angolana, francesa e italiana, os melhores vinhos importados. Na segunda festa, no Clube das Nações, mais para jovens, veio um DJ de propósito de Angola para abrilhantar o evento com músicas angolanas como kizomba, Semba, Kuduro, algumas músicas de Carlos Lamartine com novos arranjos e músicas modernas das nações aí representadas

O lançamento do livro do poeta e escritor João Portelinha foi uma atração aparte e especial. O seu primeiro romance, lançado quinta-feira e sexta-feira, nos Clubes Naval e das Nações, fala da epopéia da histórica rainha Njinga e de Nganga Zumba, filho da rainha angolana na ficção, que depois de uma luta aguerrida contra luso-brasileiros e holandeses consegue um navio e descobre Portugal! O gosto do autor pela literatura nasceu, antes de tudo, do prazer da leitura. A escrita, no entanto, foi acontecendo aos poucos, principalmente por meio dos estímulos de sua mãe Rosa Portelinha, poetisa e do escritor já falecido, Fernando Alvarenga, que foi seu professor de língua portuguesa no ensino secundário. “Quando criança, sempre estive em companhia de livros. O incentivo quase sempre vinha da minha mãe que me comprava livros de presente. Nas férias de fim de ano, em Luanda, na casa de minha tia, preferia à leitura aos passeios na capital. Meus pais ficavam sempre aborrecidos comigo, porque passava o dia todo lendo." Afirma.

A apresentação do livro foi feita pelo renomado professor de Literatura Africana de expressão portuguesa, Doutor João Ferreira, prefaciador do seu livro anterior, também lançado na Embaixada de Angola em 1998, no Brasil, intitulado: “Crônicas de Risos e Lágrimas - Sentir a Terra nas Vozes Populares”.

Depropósito deixamos para o final o nome do renomado cantor e antigo combatente angolano, o Adido Cultural da Embaixada de Angola, no Brasil, Carlos Lamartine, que foi sem dúvida incansável e primoroso organizador dos dois inesquecíveis eventos alusivos a efeméride e que, incansavelmente, fazia questão de pessoalmente transportar e expor as valorosas e belíssimas pinturas e peças de artesanato da rica cultura angolana, ora num ora noutro clube, onde foram realizadas as duas mais lindas festas de comemoração da Independência de Angola em terras brasileiras.

REDACÇÃO ZWELA ANGOLA

domingo, 10 de outubro de 2010

O descritivismo pictorial em O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL



 
João Rodrigues Portelinha da Silva é romancista, contista, ensaísta, cronista e nas horas vagas, como ele próprio diz, poeta... Tomou como tema de seu romance exclusivamente consagrado ao emocionante relato da escravidão em Angola e no Brasil... Desde o começo de sua obra, teve a ambição de reproduzir com realismo o que foi o infame comércio de escravos, de maneira mais verídica e mais completa e nos mínimos detalhes, sem buscar evitar o que pudesse haver de banal ou mesmo de desagradável em tudo quanto lhe impressionara sobre a escravidão do seu continente e das duas terras que ama de paixão: Angola, a mãe preta, e o Brasil, seu filho mestiço... A obra é feita de observação puramente naturalista, com uma ampla parte psicológica das ações, bem como sentimentos dos personagens que retratou. Só pelas qualidades do estilista satisfez às leis da estética. Seu estilo é artisticamente formado, transparente e simples, fácil e claro, conduto pessoal, onde mistura realidade com ficção e, plasticamente expressiva. Mesmo nos seus livros anteriores de contos particularmente deixa entrever a sua mestria – que, aliás, de resto, angolanos e brasileiros lhe reconhecem -. Mas é nas descrições da natureza, da dor e dos sentimentos que tais qualidades se mostram mais sedutoras. Nos destinos humanos que pode descrever, sobra pouco lugar para alegria. Os quadros são mais frequentemente de cores muito sombrias, mas a força invocadora dos seus heróis jamais se enfraquece. Este romance constitui, sem dúvida, um tour de force como pintura audaciosa e amarga da vida que nos faz lembrar Brecht com suas pinturas sobre a escravidão no Brasil. Intitulou o seu primeiro romance O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL, pensando na epopeia do reino do Ndongo e de outros povos que constituem hoje Angola e a maior parte do Brasil. O personagem principal que Portelinha escolheu para o romance, foi à formosa e lendária rainha Njinga Mbandi e o Nganga Nzumba (Zumbi dos Palmares) que na ficção são mãe e filho, mas que na realidade, embora não sejam, viveram na mesma época, e têm a mesma origem, a dos Jagas. Nzambi transportado para o Brasil como escravo é um joguete dos que o cercam, desdenhado e maltratado, como todos os outros escravos, não obstante ser “filho” de uma lendária rainha angolana. Pode-se perguntar se fora do Brasil, noutra condição social, ele teria se tornado, verdadeiramente um grande herói na luta contra a escravidão como na realidade foi e, como de resto, é bem ilustrado e romanceado pelo autor. Na realidade são poucos momentos de ficção nesta obra... Poderíamos dizer que é a realidade romanceada pelo autor. As datas, os acontecimentos, os autores, os personagens, com exceção de Tchinjila, amigo e escravo de Nzambi são reais. No decorrer deste triste episódio, que foi a escravatura, o autor se compraz em descobrir a beleza da natureza humana; liberto de toda doutrina psicanalítica, permaneceu simplesmente poeta, e soube criar a poesia pura com um traço de grandeza.
As amplas perspectivas sobre o verde doce e fresco circundado de rios azuis que brilham em todo esplendor. Há magia e a beleza retratada das florestas africanas e brasileiras com toda sua pujança circunstanciada com toda sua fauna em movimento; o barulho dos gravetos secos caindo das árvores e dos macaquinhos que pulam de haste em haste fazendo algum barulho é de extrema beleza. Encontra-se aí um sentido da vida que não nasce de um gosto puramente literário, um esforço rumo à influência livre, plena e inteira da beleza... Tudo vibra no infinito e na calma do espaço.
A análise dos personagens alcança uma profundidade notável em sua rapidez e leveza, essas figuras humanas se harmonizam com a fuga das nuvens, com o cair das chuvas, com o aparecimento do arco-íris e o seu jogo de luz, do crepúsculo à aurora de um dia novo. Graças à arte tão sutil do escritor, as palavras ganham certa ressonância e a sua música assemelha-se à de um violino de raios de luz e de cores. No entanto, se quisermos considerar esta obra tão somente no plano artístico ou literário, mesmo assim, não deixaria de ser uma obra original e importante para pesquisa mais do que qualquer daquelas obras consideradas “romances históricos” que o precedeu sobre a temática escravidão em Angola e na América Latina.
  É verdade que o “romance histórico” na América Latina e em Angola não começou propriamente com João Portelinha. Nem tampouco a temática sobre a escravidão.  Aqui, na América Latina, por exemplo, começa com a publicação de O reino deste mundo (1949), do cubano Alejo Carpentier, que assim, como consequência, provocou um ciclo de intensa publicação, tanto de romances históricos tradicionais, nas décadas de 1960 e 70, como também em outros países, não sendo exceção Angola, pátria do autor, cuja publicação de Njinga Mbandi (1979) de Manuel Pacavira, confirma uma produção com muitas características do romance histórico. No entanto, os textos de O reino deste Mundo, de Carpintier, referem-se às populações africanas, sobretudo da Guiné, que foram para América como escravos, mas as populações de Angola sequestradas para este continente não são propriamente os heróis do caribe, onde se encontravam predominantemente as populações da Guiné. As populações de Angola construíram outras histórias de resistência na América Latina como a do Quilombo dos Palmares, no Brasil, liderados por Nganga Nzumba que, aqui, de uma forma inédita e magistral é abordada em estilo de romance por João Portelinha.
  A publicação deste gênero de literatura cujas características formais e discursivas diferem em alguns pontos do romance histórico teorizado por Georg Lukács em seu Le roman historique (1965) propõe uma continuação do (sub) gênero que se desenvolve em diferentes partes do mundo e que é denominada como “novo romance histórico” de características estéticas e formais inovadoras, a ironia, a paródia e as categorias da carnavalização (Bakhlin, 1981, p. 104-7), que surgem, aqui, neste livro, com algumas das estruturas desse novo subgênero do romance. Desta maneira, é possível observar o trânsito de patterns literários no interior de um projeto cultural que inclui escritores em Portugal e Angola, considerando as produções de novos romances históricos: a Gloriosa Família: o Tempo dos Flamengos, de Pepetela, o Memorial do Convento, de José Saramago e, agora, O Dia que um Ngola Descobriu Portugal, do escritor e professor João Portelinha d´Angola, que pela sua singularidade, pode também ser comparada a Negras Raízes do premiado escritor afro-americano Alex Haley!
                                    Drª. Helga Féti
 Cantora, atriz, apresentadora e crítica de Literatura angolana




sábado, 9 de outubro de 2010

O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

            Sinopse do Romance 


João Portelinha, que já conhecemos de Crônicas de Risos e Lágrimas, no qual nos apresenta Angola com a familiaridade de quem sofreu as dores do parto da recentíssima liberdade, esclarecendo-nos quanto à influência angolana no constituir do Brasil, assesta agora, com O dia em que um ngola descobriu Portugalsua aguda visão para além-mar, fazendo, literariamente, duas pontes: uma geográfica, reconstituindo o período histórico que uniu firmemente África (particularmente Angola), Brasil e Portugal pelas cadeias da escravatura, e outra, esta uma ponte ideológica, fazendo o mesmo roteiro, em sentido inverso, na intencionalidade de uma vingança histórica.
João Portelinha, agora João Portelinha D’Angola, dá-nos a conhecer em O dia em que um ngola descobriu Portugal, o espírito guerreiro que o anima à incursão de revanche pelo domínio sofrido e, ao mesmo tempo, revela-nos a fineza do literato que, munido do recurso das letras e de acontecimentos históricos, reconstitui idealmente a história de seu próprio povo, o povo de Angola, de modo a vivenciar um novo desfecho.Trata-se de um romance ficcional, ainda que completamente embasado em fatos históricos, palco no qual o Brasil entra como ator coadjuvante, berço que foi de Nganga Nzumba (o nosso brasileiríssimo Ganga Zumba) e continente do território de um povo que ousou levantar-se contra os grilhões da escravatura: Palmares. Apesar de coadjuvante, e palco das demonstrações do que havia de mais desumano e violento no período em pauta, encarna o Brasil o espírito libertário de Nganga Nzumba que, na também libertária pena de João Portelinha D’Angola, transcende as limitações de seu tempo e de sua condição de inimigo do reino para vencer e conquistar a terra mesma dos conquistadores de seu próprio povo.
O dia em que um ngola descobriu Portugal é muito mais que a ficção de um período histórico; é antes e, além disso, um grito de liberdade que ecoa por três continentes e que ainda hoje se faz necessário ser gritar e ser ouvido, pois se foram modificados os modos, os atores e as ferramentas de dominação, a dominação em si continua, já sem a rota específica da dor, como a tínhamos então, mas amplamente difundida na prática aviltante da exploração do ser humano, independentemente de sua condição social, cultura ou região de origem.


        Em suma, o que deveria ter morrido com o período da selvageria embasada no preconceito, medra com toda a pujança nos meios que nos parecem mais plenos de humanidade, explorando o homem nos seus vários aspectos: físico, emocional, mental, devocional. O grito de liberdade de Nganga Nzumba deixou, com O dia em que um ngola descobriu Portugal, seu nicho circunscrito no tempo para ganhar a dimensão global em que existimos, comprovando que o tempo passou, as condições de domínio político passaram, mas a dignidade humana continua a carecer de respeito e liberdade. Texto do poeta Casagrande